quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Paraná - Um mar de café


HISTÓRIA - A produção cafeeira no Paraná teve destaque de 1920 até 1975 e no auge, em 1962, chegou a colher 20 milhões de sacas, o que equivaleu a 1/3 da produção mundial da bebida

Antes de serem cafeicultores, os homens que escolheram o Paraná para produzir café tiveram que seguir a técnica dos bandeirantes: desbravar o território praticamente intacto, povoado apenas por uma rica e densa mata nativa, para depois fazer o buraco e plantar. A peroba rosa, que existia em abundância, foi derrubada para construir as primeiras casas das fazendas paranaenses. No princípio, as famílias, constituídas por cerca de 50 pessoas, plantaram milho, feijão e arroz para a própria subsistência. O café demoraria quatro anos para brotar.

Foi entre 1850 e 1870 que as primeiras levas de imigrantes – principalmente paulistas e mineiros – vieram para o Paraná em busca de terra nova e de boa qualidade para o plantio. O Império já havia feito um levantamento e constatado que a “terra roxa” rendia bons frutos. “A cultura do café era nômade, o que quer dizer que a população ia aos lugares onde existia terra produtiva, independentemente da localização”.
O Paraná atraiu ainda mais mineiros e paulistas a partir de 1906, em decorrência do recém-aprovado Convênio de Taubaté: o governo teve de comprar o café excedente produzido nos dois estados para evitar que o preço caísse e começou a desencorajar a produção em larga escala. “Como no Paraná havia uma grande produção, sem restrição, ele era um cenário promissor”, diz o engenheiro agrônomo Armínio Kaiser, também fotógrafo e ex-integrante do extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC).
Mas foi apenas na década de 1930 que houve uma definição maior das terras que passariam a ser fazendas cafeeiras. Em 1926, o governo do Paraná vendeu uma boa parte de seus hectares no Norte para uma companhia inglesa. Ela exploraria a região com a cultura do algodão e em troca daria infraestrutura ao estado.
“A Inglaterra teve uma relação importante de conhecimento com o algodão, principalmente pelas explorações feitas na África. Percebeu, porém, que aqui não daria certo porque o algodão estava intimamente ligado ao escravo [plantava-se para fazer roupas para eles]. Por isso, em plena República, esta não seria uma atividade lucrativa e socialmente interessante”.
A solução encontrada pela companhia foi lotear as terras, o que impulsionou a vinda de mais imigrantes interessados na produção do café. Só que agora eles não eram desbravadores, mas compradores. Foi a venda desses pequenos lotes que determinou a principal característica das fazendas paranaenses: diferentemente de São Paulo, elas eram menores e em maior quantidade. “O Paraná teve 70 mil propriedades de fazenda no auge da produção, de 1920 a 1975, grande parte com até 10 alqueires”, afirma o engenheiro agrônomo Irineu Pozzobon, autor do livro A Epopeia do Café no Paraná.
Migração
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi o último acontecimento que definiu quem seriam os fazendeiros no Paraná: italianos, alemães e japoneses, muitos sem conhecimento sobre o café, se estabeleceram no estado após deixarem seus países. Foi nas fazendas desses imigrantes que a arquitetura de madeira teve mais destaque, principalmente a casa sede. “Eles moravam na fazenda, diferentemente de outros proprietários, e investiram na residência. Uma família alemã chegou a criar um hospital na propriedade para atender os colonos. A mulher do fazendeiro era médica”. Em 1962, o Paraná produzia 20 milhões de sacas de café e chegou a ser responsável por 50% da produção mundial. Teve 1 bilhão de pés: uma pessoa cuidava de cerca de quatro pés de café por colheita. Trata-se, pois, do tipo de agricultura que antigamente demandava mais mão de obra. Não por acaso, o estado teve 2 milhões de pessoas envolvidas no processo (1/3 da população total na época). Foi esse povo que migrou para as cidades, muitos como boias-frias, após a grande geada de 1975, que arrasou todas as plantações.
Fonte: http://www.gazetamaringa.com.br/online/

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