quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Trocas comerciais entre Angola e Brasil atingem USD 4 bilhões



A linha de crédito Brasil- Angola, a posição dos dois países nestes tempos de crise, a entrada da Sonangol em alguns blocos de exploração de petróleo no Brasil, para além de outros assuntos, foram temas debatidos em conversa com Alberto Ésper, presidente da Associação dos Empresários Brasileiros em Angola (AEBRAN). O técnico brasileiro considera que a crise econômica pode ser uma grande oportunidade para os dois países se imporem a nível internacional: “Continuo a achar que Angola e o Brasil têm imensas vantagens como alternativas à crise no mundo inteiro”.

Mais da metade dos recursos do Programa de Financiamento às Exportações (PROEX), administrados pelo Banco do Brasil, foi destinado, no ano passado, à economia angolana. 

O ano passado, as trocas comerciais foram superiores aos USD 4 bilhões. Os financiamentos diretos do Brasil para projetos em Angola andam próximo dos USD 2 bilhões, que são renováveis. Temos uma linha de crédito aberta Brasil- Angola de USD 1,75 bilhões, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), vinculado ao MDIC. À medida que ela é utilizada, vai sendo recomposta.

Como vem acontecendo nos últimos anos, a tendência é aumentar. Em 2003, a linha de crédito andava à volta dos USD 200 milhões e foi subindo rapidamente. Tanto assim que, em 2007, atingiu os USD 1,75 bilhões. Para além do financiamento do governo brasileiro há um grande aumento de investidores brasileiros privados em Angola que sabem do potencial deste mercado. Eles vêem Angola como um destino favorável para os seus investimentos e, com o crescimento da indústria nacional, acredito que Angola aparecerá mais na posição de exportador. Os efeitos da crise não chegam a Angola como a outros países. Angola já vem de um processo de crescimento forte e continuará, dado que a origem desta crise está nos mercados de capitais, na bolsa de valores. O mercado angolano está apoiado na produção, o que é uma vantagem.

A construção civil é o setor preferencial para o encaminhamento do investimento brasileiro, onde existe uma participação mais marcante, mais visível, das empresas brasileiras em Angola. A Odebrecht é uma das empresas que está há mais tempo em Angola, mas hoje também existem outras de grande porte, como é o caso da Camargo Correia, António Guterrez, Queirós Galvão... Mas temos que notar que hoje o brasileiro está nas mais diversas áreas da economia angolana, como a agricultura, o comércio geral, a saúde, educação (inclusive no projeto de alfabetização e aceleração escolar), na área de formação e tecnologia em geral. 

Neste momento, em que se fala muito na necessidade da diversificação da economia angolana, o Brasil, mais uma vez, se constitui um parceiro potencial muito forte. O agronegócio que, sem dúvida, é uma grande potencialidade vai ainda elevar Angola a um nível muito alto no mercado internacional, porque a produção de alimentos é fator determinante para o mundo inteiro no momento atual. Angola tem uma extensão territorial muito grande com terras férteis e condições climáticas. Os países mais desenvolvidos, que são os mercados consumidores, e já começam a sentir dificuldades na produção de alimentos e disponibilidade de água, certamente vão preferir comprar alimentos em países produtores como Angola. O Brasil tem uma grande experiência no agronegócio, tornando-se um país de excelência em termos de tecnologia e pode colaborar com Angola.



O Brasil, biomassa e biocombustíveis no mundo

O Brasil encontrou soluções interessantes para a energia renovável, ecologicamente correta. Hoje na legislação brasileira obriga-se que na composição do óleo já contenha 4% do óleo vegetal, da semente oleaginosa. Em 2007, num evento realizado pela AEBRAN, com a presença de 400 empresários, foi assinado um contrato de sociedade em que participam a Odebrecht e as angolanas Sonangol e a Damer. Hoje já estão fazendo o cultivo de açúcar. Estão numa fase de preparação para a produção do álcool. Isto é muito importante, porque pode elevar Angola à categoria de exportador, já que é um líder do continente africano. Isso gera muito emprego, diminui a poluição e não se esgota tanto o combustível a partir do petróleo.

A criação da Agência Nacional Para o Investimento Privado (ANIP) foi uma medida inteligente e trouxe regulamentação para a entrada de investimentos. Trouxe mais segurança aos investidores e mais clareza. Através da ANIP sabe-se como o capital entra no país, como pode ser repatriado, o resultado do seu investimento, os atrativos que o Governo angolano oferece sob a forma de incentivos fiscais e outras condições.

A AEBRAN congrega aproximadamente 40 empresas, mas o número é superior. Um grupo empresarial, às vezes, tem mais de três empresas. Estima-se que existam pelo menos 200 empresas com participação societária de brasileiros. 

Na exploração de petróleo, a Petrobrás é a empresa de tecnologia mais avançada em exploração em águas ultraprofundas. O Brasil tem descoberto bacias enormes de petróleo, chegou a atingir a auto-suficiência em relação ao seu consumo. Angola tem parcerias com o Brasil, há muitos anos, no ramo petrolífero. O Brasil exporta principalmente para Angola máquinas, eletrodomésticos, tratores, aparelhos de telecomunicações, elementos destinados à indústria do petróleo e até gasolina refinada. 


A pauta de exportações do Brasil para Angola é muito variável. Ela é principalmente de produtos industrializados, máquinas e equipamentos para a construção civil, materiais de construção, aço, vidros, material escolar e médico, alimentos e aviação. A EMBRAER, por exemplo, tem exportado muitos aviões para Angola. 

Tudo o que o Brasil importa de Angola está relacionado com o petróleo. Por isso é que as trocas comerciais vão crescer à medida que Angola começar a produzir industrialmente e no campo agrícola. O fato de a balança pender mais para o lado brasileiro não poderá suscitar uma apreciação negativa por parte das autoridades angolanas porque isso tem muito a ver com o preço do petróleo, a balança comercial é favorável a Angola próximo dos USD 200 milhões. O Brasil afirma-se como uma das grandes economias mundiais. Angola é também uma economia emergente.

Como um país de dimensões continentais, com riquezas naturais imensas, baseada em muitas tecnologias, o Brasil tem aparecido no cenário internacional como líder dos países em desenvolvimento, uma posição muito respeitada pelas grandes economias, que conhecem as potencialidades dos países em desenvolvimento. Tanto o Brasil como Angola são muito ricos em recursos hídricos, riquezas minerais, têm um potencial de produção de energia eléctrica e hidroeléctrica muito grande. Enfim, há muita semelhança. A aproximação só trará aspectos positivos para os dois países.

O Brasil é um dos países que sofre menos com a crise. O risco no Brasil vem diminuindo ano a ano, mês a mês. Percebe-se que a economia no Brasil tem já um lastro, uma solidez, uma sustentabilidade que não se abala como outros países, na Europa, por exemplo. Angola também sofre com a crise. O preço do petróleo caiu muito e isso abala o país. Mas acho, tal como muitos analistas, que a crise também é um momento de oportunidade. Angola e o Brasil têm imensas vantagens como alternativas à crise que atinge o mundo inteiro.



Fonte: http://www.opais.net.


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