quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Agronegócio



2008 e 2009
Em relação ao desempenho de 2008, o primeiro semestre de 2009 foi de fortes oscilações no volume exportado pelo agronegócio (IVE-Agro). Depois de registrar queda de 12% em maio de 2009, em relação a maio de 2008, o mês de junho foi de recuperação e o volume exportado pelo setor expandiu 22,7% na comparação com junho de 2008 e 5,7% comparando-se os dois primeiros semestres.
Os preços em dólares dos produtos exportados do agronegócio (IPE-Agro), que já vinham caindo desde setembro de 2008, acumularam de jan/08 a mar/09 recuo de 10,6%. 

Entretanto, em abril os preços voltaram a melhorar, seguindo em ascensão. Em junho o recuo de preços em relação a janeiro de 2008 foi de apenas 3,86%. Na comparação dos dois semestres, a retração é de 12,01%.
O câmbio segue desvalorizado em relação ao patamar registrado no primeiro semestre de 2008, refletindo no IC-Agro (índice de câmbio). Em março este, que havia recuado 0,6% em relação a março de 2008, passou a crescer desde então, alcançando em junho desvalorização de 28% quando comparado a junho de 2008, e 10,6% comparando-se os dois primeiros semestres.
A combinação da queda de 12,01% nos preços em dólares com a desvalorização de 10,59% da taxa de câmbio efetiva real do agronegócio resultou em diminuição de 2,49% nos preços em reais (IAT-Agro) - considerando jan-jun de 2009 contra jan-jun de 2008.

2009
No primeiro semestre de 2009, o recuo dos preços de exportação dos produtos do agronegócio em dólares chegou a 12,01%. Entretanto, o volume seguiu em expansão (5,6%), impedindo, desta forma, maior retração no faturamento em dólar do agronegócio (-7,28%), em relação ao mesmo período de 2008.
A taxa de câmbio efetiva real do agronegócio (IC-Agro) apresentou aumento de 10,6% (desvalorização cambial), em relação ao primeiro semestre de 2008, contribuindo, assim, para a atratividade das exportações brasileiras do agronegócio. Entretanto o significativo recuo nos preços em dólares (12,01%) levou os preços em reais (IAT-Agro) a fechar o primeiro semestre com queda de 2,5%.

Exportação por setor
Na primeira metade de 2009, predominou o recuo de atratividade das exportações do agronegócio, comportamento diferente do que ocorreu em 2008, quando grande parte dos produtos registraram aumento de atratividade.
Os produtos com maior atratividade no primeiro semestre, em comparação ao mesmo período de 2008, foram: açúcar (24,28%), farelo de soja (13,39%) e madeira e mobiliário (6,44%). Há ainda a soja em grãos com pequeno aumento de 1%. Entre os produtos com queda de atratividade, destacam-se o óleo de soja, álcool, papel e celulose e carne suína, todos com recuo acima de 16%. Para os demais, a queda de atratividade não ultrapassou 10%.

Apesar da modesta expansão de 1% em sua atratividade, a soja em grãos destaca-se pelo maior crescimento no volume exportado (40,20%) no primeiro semestre de 2009. Na seqüência vieram: açúcar (36,67%), café (19,87%), papel e celulose (11,96%), carne suína (9,04%) e o farelo de soja (7,18%). Os demais produtos registraram recuo no volume exportado, com destaque para a madeira e mobiliário, álcool, óleo de soja, carne bovina e frutas com diminuições superiores a 12%. A carne de frango e o suco de laranja, apesar de apresentarem recuo em seus volumes inferiores a 4%, também sofrem com queda em sua atratividade, agravando ainda mais o faturamento nestas atividades.

Exportações Regionais
Os índices regionais de Preços de Exportação do Agronegócio (IPE-Agro/Cepea/Região) mostram que o primeiro semestre de 2009 foi marcado por reversão na tendência de aumento dos preços em dólares em todas as regiões. Entretanto, vale ressaltar que todos se mantêm em significativa alta, quando comparados ao ano 2000 - o IPE-Agro Brasil cresceu 42% de 2000 a junho de 2009.
As regiões Norte, Centro-Oeste, Nordeste e Sul tiveram aumentos de preços acima da média nacional (162%, 86%, 62% e 61% respectivamente), enquanto que a Sudeste teve expansão menor que a nacional (37%). Vale ressaltar que na região Norte predominam as exportações de produtos da madeira, carnes e animais vivos e oleaginosas; no Nordeste, destacam-se papel e celulose, açúcar e frutas; no Centro-Oeste, grãos e farelos e carnes; no Sul, carnes e grãos; e no Sudeste, açúcar, café, papel e celulose, carnes e sucos de frutas (principalmente de laranja). Nota-se, assim, que entre os produtos do Sudeste estão vários dos que tiveram pior resultado no tocante à atratividade das exportações.

Em relação ao Índice de Volume Exportado pelo Agronegócio, verifica-se que a região Centro-Oeste apresentou um crescimento de 425% de 2000 a junho de 2009, bem acima da média nacional, que foi de 121%. O Nordeste também apresentou evolução acima da nacional, com 149%. Já as regiões Sudeste, Sul e Norte apresentaram variações de 57%, 52% e 40%, respectivamente – portanto abaixo da nacional.
Quando se compara o primeiro semestre de 2009 ao mesmo período de 2008, verifica-se que apenas as regiões Norte e Nordeste apresentaram aumento de preços em dólares dos produtos de exportação do agronegócio. Já as regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste sofreram quedas de 14,07%, 7,74% e 6,13% respectivamente.

Quanto ao volume exportado, as regiões Norte, Sul e Sudeste foram as que tiveram os piores desempenhos, com reduções de 37,18%, 26,27% e 10,67% respectivamente. As regiões Sul e Sudeste enfretam as maiores dificuldades, uma vez que os preços dos principais produtos de sua pauta exportadora também estiveram em queda: no Sul, carnes; e no Sudeste, café, papel e celulose, carnes e sucos de frutas (principalmente de laranja). 

Por outro lado, a região Centro-Oeste registrou o maior aumento no volume exportado (19,26%), seguida pelo modesto desempenho da região Nordeste (2,22%).

Crise
A crise internacional que se instalou no segundo semestre de 2008 e a consequente redução na demanda internacional refletiram-se no desempenho exportador do agronegócio brasileiro no primeiro semestre de 2009. Em termos de volume, mesmo diante das dificuldades, o setor elevou o montante exportado em 5,6%, comparado ao mesmo período de 2008. Os preços em dólar registraram queda no primeiro semestre (12,01%), mas com ligeira recuperação no último trimestre do período, o que impediu piores resultados no faturamento do agronegócio. No balanço do semestre, houve queda de 7,28%. Com o câmbio desvalorizando 10,5%, a atratividade das exportações recuou apenas 2,5% neste primeiro semestre de 2009, em relação ao mesmo período de 2008.

Quanto aos produtos exportados, o pior desempenho em preços (em Reais), deveu-se ao óleo de soja, álcool, papel e celulose e carne suína: todos com recuo acima de 15% no primeiro semestre de 2009. Em volume, os maiores recuos ocorreram na madeira e mobiliário, carne suína e papel e celulose: quedas também superiores a 17%. Por outro lado, o açúcar e o farelo expandiram mais de 13% em preços e a carne bovina, frutas, farelo de soja e suco de laranja registraram crescimento superior a 11% em volume.
Em relação ao comportamento regional, as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste sofreram retrações em preços, enquanto as regiões Norte e Nordeste registraram alta. As regiões Sul e Sudeste também foram desfavorecidas devido à queda de volume dos principais produtos que exportam. A região Norte sofreu recuo nos volumes, enquanto as regiões Nordeste e Centro-Oeste registraram aumento.

Quanto às perspectivas para as exportações do agronegócio, o cenário que se vislumbra certamente não é pessimista. Há sucessivas indicações de que a crise mundial já teria superado o “fundo do poço”, com claras tendências de recuperação, mormente em importantes consumidores como China e Índia – e também Brasil – e mesmo no bloco de países desenvolvidos, se bem que com vigor muito menor. O fulcro da crise, ou seja, o rompimento do sistema financeiro e credíticio, também parece ceder, com progressivo retorno à normalidade. Com isso, um segundo semestre de 2009 caracterizado por um ritmo mais acelerado de crescimento e um ano de 2010 mais próximo das taxas anteriores à crise parecem mais prováveis.

Confirmadas essa expectativas, o agronegócio brasileiro tem condições de retomar sua trajetória de sucesso no comércio internacional. Duas possibilidades poderiam frustrar essas antecipações. A curto prazo, o mercado poderia ser surpreendido pela dinâmica de recuperação, ou seja, a retomada que se percebe seria consequência apenas de uma recomposição de estoques face aos estímulos fiscais e monetários aplicados no auge da crise e que tenderiam a se dissipar nos próximos meses, com o que se voltaria a um desempenho mais fraco da economia mundial. A longo prazo, a recuperação poderia ser interrompida por esforços para controlar um processo inflacionário decorrente de uma recuperação muito forte dos preços das commodities turbinada pelo rescaldo dos monumentais estímulos fiscais e monetários acionados em resposta à crise.

Principais parceiros internacionais do agronegócio brasileiro
Considerando o comércio externo no período de 1996-2008, os principais parceiros do Brasil foram Estados Unidos, Zona do Euro e Argentina, que juntos compram 50% do total (em faturamento) do produto brasileiro. Entre outros mercados consumidores dos produtos brasileiros que merecem ser citados estão China, Japão, México, Chile e Reino Unido. 

Grande parte das importações brasileiras (gerais) é proveniente destes mesmos países, com praticamente 50% dos produtos vindos dos Estados Unidos, Zona do Euro e Argentina. 

Porém, no decorrer do tempo, verifica-se um ligeiro aumento da diversificação dos países tanto em relação à exportação quanto à importação.
Entre os maiores parceiros comerciais do Brasil, levando em consideração somente o agronegócio, a União Européia é a maior importadora, com 48% das exportações . Em seguida vêm Estados Unidos, China e Japão, com 16,4%, 11,71% e 7,5% respectivamente. 

No agronegócio também se verifica a tendência de redução da participação dos parceiros mais tradicionais, principalmente dos EUA, e o aumento da participação de Rússia e China.

Pauta de exportação do agronegócio brasileiro 

União Européia
A União Européia é o principal comprador de produtos brasileiros em geral e também o maior comprador de produtos do agronegócio especificamente. Em relação a este último, os principais produtos importados entre 2000 e 2008 foram Sementes e Frutos Oleaginosos, na qual se destaca a soja com 18%, Resíduos e desperdícios (farelo de soja) com 15%, Chá, Mate e especiarias (café) com 10%, carnes também com 10% e papel e celulose com 8% – os percentuais se referem à participação de cada grupo de produto no total adquirido por esta região junto ao agronegócio brasileiro.

Estados Unidos
Os Estados Unidos, segundo maior comprador de produtos brasileiros, importaram do agronegócio principalmente Madeira e Mobiliário (24%), Calçados (20%), Papel e Celulose (13%) e Chá, Mate e especiarias (9%) no período de 2000 a 2008.

China
A China importa do Brasil principalmente soja, na forma de grãos e óleo (57% e 16%, respectivamente). Além disso, ressaltam-se as exportações de Papel e celulose (9%).

Rússia
A Rússia, que compra 7,5% dos produtos brasileiros do agronegócio, importa predominantemente Carnes (52%) e açúcar (37%).

Demais parceiros
Outros seis parceiros comerciais juntos compram 16,6% das exportações brasileiras do agronegócio. A Argentina importa do Brasil principalmente Papel e celulose (24%), produtos da indústria têxtil (19%) e Máquinas e implementos (18%). O Japão compra Carnes (36%), Chá, Mate e Especiarias (14%), Sementes e frutos oleaginosos (10%) e papel e celulose (10%). O México importa Madeira e Mobiliário (15%), Máquinas e implementos e calçados (14%) e sementes e frutos oleaginosos (10%). O Chile importa Carnes (24%), Papel e celulose (23%) e têxtil (9%). O Reino Unido adquire do Brasil Madeira e Mobiliário e Carnes (15% cada), preparados de carne (12%) e sementes e frutos oleaginosos (11%); a Coréia compra Resíduos e desperdícios (farelo de soja, 24%), Sementes e frutos oleaginosos (17%), Cereais (15%) e Papel e Celulose (10%).

Índices de exportação do Agronegócio
Devido às diferentes composições das exportações para cada um dos parceiros comerciais, há diferentes evoluções de preços dos produtos exportados de acordo com o destino.
Há um grupo de parceiros comerciais cujos preços em dólares dos produtos do agronegócio exportados aumentaram menos que 50% entre 2000 e 2008. Para outros importadores, os preços ficaram em uma posição intermediária; por fim, há a China , caso em que os preços aumentaram mais que 100%.
México, Estados Unidos, Argentina e Chile foram os países com baixa evolução dos preços de exportação (33,7%, 36%, 43,3% e 47,4% respectivamente).
Dentre os países de destino das exportações brasileiras, a China é um mercado comprador bastante importante, seja pela sua dimensão, ou pelo tipo de produto comprado.

Fonte: Geraldo Barros/Adriana Ferreira Silva - CEPEA 

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