quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Nós não precisamos dessa educação que está aí


Para entender o porquê dessa dramática afirmação é preciso voltar um pouco no tempo. As universidades, como as conhecemos hoje, chegaram a nós mais ou menos no formato em que existiam na Europa durante a Idade Média. Tais instituições, algumas centenárias, foram criadas para treinar os membros da elite a ocupar seu lugar na sociedade. Estamos falando de uma época em que o acesso ao conhecimento era bastante restrito, os livros eram literalmente copiados à mão e saber ler e escrever era uma marca dos bem nascidos.
Pulemos para os dias de hoje. As divisões por disciplinas, tão naturais em um mundo que mudava lentamente, cada vez mais perdem o sentido. Professores como guardiões do conhecimento? Provavelmente assisti às melhores palestras pela internet do que em toda minha vida acadêmica (devo confessar que tenho o app das palestras do TED no meu celular). Bibliotecas como detentoras do conhecimento? As grandes livrarias, livros eletrônicos e grande quantidade de material disponível em outros formatos estão derrubando as vantagens que as grandes bibliotecas possuíam. Me dê um computador e acesso a boas fontes de pesquisa e estarei feliz em qualquer lugar do mundo.
O que dizer então, do conteúdo das aulas? Como alguém que vive a realidade dos dois lados do quadro negro, tenho isso a dizer: algumas aulas são boas, outras ruins. Poucas serão inacreditavelmente boas, e poucas inacreditavelmente ruins. Infelizmente, há professores desatualizados, controladores e simplesmente frustrados com sua profissão em todo lugar. Fora isso, a falta de conhecimento de uns não impede a atuação fornecida por um punhado de diplomas. Ouvi certa vez, de uma professora que ensinava fundamentos de Administração a calouros de um curso, como era importante "gravar ideais marxistas e comunistas nas mentes dos jovens". Tal pessoa, apesar de provavelmente ser mais marxista que o próprio Marx (e que, em segunda análise, duvido que tenha lido, muito menos entendido, o próprio), estava e continua cometendo um verdadeiro absurdo ao doutrinar de forma errônea um grupo de jovens que está dando seus primeiros passos - sem contar no completo desrespeito ao programa do curso e à inteligência dos alunos, que em vez de serem apresentados aos vários lados da discussão eram doutrinados em uma direção.
Voltando-me ao programa, eis aí outro ponto contra o ensino formal: o MEC estabelece cada vez mais disciplinas e horas-aula dos mais diversos assuntos, enquanto, na outra ponta, forma-se alunos sem o menor domínio da Língua Portuguesa ou Matemática - esses, sim, essenciais a qualquer pessoa que queira realmente participar e entender o mundo que a cerca. Programas desatualizados e massacrantes tornam aulas que poderiam ser interessantes em um exercício de repetição de teorias desatualizadas. Isso quando o professor se dá ao trabalho de mostrar ao aluno de onde realmente vêm, quais são as limitações e desenvolvimentos posteriores do assunto tratado - algo que, infelizmente, boa parte sequer conhece.
Não imagine, caro leitor, que a culpa é toda dos professores. Em minha andança pelas instituições de ensino pelo país, encontrei pessoas fantásticas, muitas delas geniais. O problema começa quando você pega um professor genial, coloca ele quarenta horas por semana em uma sala de aula e espera que ele tenha tempo de preparar aulas e corrigir provas. Pergunto, então, como é possível que tal pessoa continue atualizada em algo como 5 a 10 anos?
Também encontrei muitos que deviam ser barrados na porta. Todos aqueles que dizem dar aulas por falta de opção, ou não gostar do que fazem, ou fazerem por pura obrigação, deveriam ser gentilmente enviados porta afora.

Com tudo isso, quanto vale, afinal, um diploma?

Alguns economistas diriam que um diploma de uma boa universidade é um ótimo exemplo de auto seleção. Ou seja, alguém não é bom por ter feito um curso em uma grande instituição, mas sim por ter conseguido entrar nela. Por essa linha de raciocínio, os alunos das melhores universidades são melhores porque venceram um processo de seleção mais concorrido e possuem os recursos para se manter no curso durante o tempo necessário. O diploma não significa educação, mas é uma forma de garantir a um futuro empregador a qualidade da pessoa que conseguiu entrar em determinado curso. Se você receber cem currículos, mas apenas três vierem de faculdades renomadas, chamar esses três para uma entrevista e ignorar os outros 97 é algo bastante comum por aí.
O que nos leva à questão: por que, então, aplicar tempo e dinheiro em um curso? Comecei a fazer esta pergunta na pesquisa para meus livros sobre criatividade e empreendedorismo e descobri que a grande verdade é que não é o curso que importa, pelo menos não da forma como costumamos pensar.
Ao ler biografias, estudos científicos e outros textos sobre as características de grandes profissionais, o que vemos é que é bastante comum a presença de grandes professores. Uma pesquisa que incluía vencedores do prêmio Nobel, por exemplo, identificou que não era a instituição, mas o contato com determinado professor, que possuía relação com o futuro sucesso dos alunos. Uma das conclusões mais interessantes é que a melhor forma de ganhar um prêmio Nobel é ter estudado com alguém que já ganhou um desses. Existem verdadeiras dinastias em várias áreas, com o destaque passando de professor a aluno, que se torna professor de futuras gerações.
O que as pesquisas mostram já há muito tempo é que não é o conhecimento em si, mas a postura profissional e pessoal que fazem um grande professor. O conhecimento, afinal, está em livros, e espalhado pelo mundo, para quem tiver interesse de ir atrás deles. Mas um bom mestre, alguém que lhe ensine não só o que aprender, mas como aprender e o que fazer com isso, esses são realmente raros. Pouco importa se são professores com grandes títulos acadêmicos, "coaches" profissionais, mentores dentro de empresas, verdadeiros professores são aqueles que ensinam pelo exemplo, por inspirar, por fazer com que seus alunos queiram se tornar iguais, quem sabe até superá-los. Veja, caro leitor, que não estou falando de sonhos, professores no modo como os defino aqui são encontrados em vários lugares e biografias.
Para ficar na área de Administração, é bom lembrar que um dos homens mais ricos do mundo, Warren Buffett, se matriculou no MBA da Columbia Business School porque Benjamin Graham dava aula ali (se você viu o filme "À procura da Felicidade", com o Will Smith, o livro que ele estuda no filme foi escrito por Graham). Foi usando os ensinamentos de Graham que Buffett se tornou um dos maiores investidores do mundo. Se não fosse por essa relação aluno-professor, Buffett não seria conhecido como o grande expoente da chamada "análise fundamentalista" em finanças, e Graham não seria considerado o formador dessa disciplina. Isso sem contar no professor que sugeriu aos fundadores do Google que era hora de largar a faculdade e focar na própria empresa, já que a faculdade continuaria ali caso a aventura desse errado e inúmeros outros casos parecidos.
Que fazer então, se você continua em dúvida entre fazer ou não um curso superior? Se seu objetivo é pragmático, um diploma de uma boa instituição pode abrir algumas portas para você (mas dificilmente vai garantir sua permanência por lá). Se você quer aprender um assunto por amor aquilo, motivo não falta para você começar já, pouco importando títulos e outras coisas. Aliás, garanto que se você realmente se importar, aprenderá mais e mais rápido do que na maioria das instituições.
Agora, se você realmente quer uma experiência que valha a pena, escolha um bom professor. Ele pode estar em uma faculdade, ele pode ser seu chefe, colega, um conhecido com o qual você conversa de vez em quando e te inspira a ser melhor, ou até um personagem histórico sobre o qual você costuma ler e admira (pessoalmente, penso no Winston Churchill quando tenho um problema. Não só ele resistiu aos nazistas isolado em uma ilha, como conseguiu tal proeza estando bêbado em boa parte do tempo).
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