Para
entender o porquê dessa dramática afirmação é preciso voltar
um pouco no tempo. As universidades, como as conhecemos hoje, chegaram a
nós mais ou menos no formato em que existiam na Europa durante a Idade
Média. Tais instituições, algumas centenárias, foram criadas para
treinar os membros da elite a ocupar seu lugar na sociedade. Estamos
falando de uma época em que o acesso ao conhecimento era bastante
restrito, os livros eram literalmente copiados à mão e saber ler e
escrever era uma marca dos bem nascidos.
Pulemos
para os dias de hoje. As divisões por disciplinas, tão naturais em um
mundo que mudava lentamente, cada vez mais perdem o sentido. Professores
como guardiões do conhecimento? Provavelmente assisti às melhores
palestras pela internet do que em toda minha vida acadêmica (devo
confessar que tenho o app das palestras do TED no meu celular).
Bibliotecas como detentoras do conhecimento? As grandes livrarias,
livros eletrônicos e grande quantidade de material disponível em outros
formatos estão derrubando as vantagens que as grandes bibliotecas
possuíam. Me dê um computador e acesso a boas fontes de pesquisa e
estarei feliz em qualquer lugar do mundo.
O
que dizer então, do conteúdo das aulas? Como alguém que vive a
realidade dos dois lados do quadro negro, tenho isso a dizer: algumas
aulas são boas, outras ruins. Poucas serão inacreditavelmente boas, e
poucas inacreditavelmente ruins. Infelizmente, há professores
desatualizados, controladores e simplesmente frustrados com sua
profissão em todo lugar. Fora isso, a falta de conhecimento de uns não
impede a atuação fornecida por um punhado de diplomas. Ouvi certa vez,
de uma professora que ensinava fundamentos de Administração a calouros
de um curso, como era importante "gravar ideais marxistas e comunistas
nas mentes dos jovens". Tal pessoa, apesar de provavelmente ser mais
marxista que o próprio Marx (e que, em segunda análise, duvido que tenha
lido, muito menos entendido, o próprio), estava e continua cometendo um
verdadeiro absurdo ao doutrinar de forma errônea um grupo de jovens que
está dando seus primeiros passos - sem contar no completo desrespeito
ao programa do curso e à inteligência dos alunos, que em vez de serem
apresentados aos vários lados da discussão eram doutrinados em uma
direção.
Voltando-me ao programa, eis
aí outro ponto contra o ensino formal: o MEC estabelece cada vez mais
disciplinas e horas-aula dos mais diversos assuntos, enquanto, na outra
ponta, forma-se alunos sem o menor domínio da Língua Portuguesa ou
Matemática - esses, sim, essenciais a qualquer pessoa que queira
realmente participar e entender o mundo que a cerca. Programas
desatualizados e massacrantes tornam aulas que poderiam ser
interessantes em um exercício de repetição de teorias desatualizadas.
Isso quando o professor se dá ao trabalho de mostrar ao aluno de onde
realmente vêm, quais são as limitações e desenvolvimentos posteriores do
assunto tratado - algo que, infelizmente, boa parte sequer conhece.
Não
imagine, caro leitor, que a culpa é toda dos professores. Em minha
andança pelas instituições de ensino pelo país, encontrei pessoas
fantásticas, muitas delas geniais. O problema começa quando você pega um
professor genial, coloca ele quarenta horas por semana em uma sala de
aula e espera que ele tenha tempo de preparar aulas e corrigir provas.
Pergunto, então, como é possível que tal pessoa continue atualizada em
algo como 5 a 10 anos?
Também
encontrei muitos que deviam ser barrados na porta. Todos aqueles que
dizem dar aulas por falta de opção, ou não gostar do que fazem, ou
fazerem por pura obrigação, deveriam ser gentilmente enviados porta
afora.
Com tudo isso, quanto vale, afinal, um diploma?
Alguns
economistas diriam que um diploma de uma boa universidade é um ótimo
exemplo de auto seleção. Ou seja, alguém não é bom por ter feito um
curso em uma grande instituição, mas sim por ter conseguido entrar nela.
Por essa linha de raciocínio, os alunos das melhores universidades são
melhores porque venceram um processo de seleção mais concorrido e
possuem os recursos para se manter no curso durante o tempo necessário. O
diploma não significa educação, mas é uma forma de garantir a um futuro
empregador a qualidade da pessoa que conseguiu entrar em determinado
curso. Se você receber cem currículos, mas apenas três vierem de
faculdades renomadas, chamar esses três para uma entrevista e ignorar os
outros 97 é algo bastante comum por aí.
O
que nos leva à questão: por que, então, aplicar tempo e dinheiro em um
curso? Comecei a fazer esta pergunta na pesquisa para meus livros sobre
criatividade e empreendedorismo e descobri que a grande verdade é que
não é o curso que importa, pelo menos não da forma como costumamos
pensar.
Ao ler biografias, estudos
científicos e outros textos sobre as características de grandes
profissionais, o que vemos é que é bastante comum a presença de grandes
professores. Uma pesquisa que incluía vencedores do prêmio Nobel, por
exemplo, identificou que não era a instituição, mas o contato com
determinado professor, que possuía relação com o futuro sucesso dos
alunos. Uma das conclusões mais interessantes é que a melhor forma de
ganhar um prêmio Nobel é ter estudado com alguém que já ganhou um
desses. Existem verdadeiras dinastias em várias áreas, com o destaque
passando de professor a aluno, que se torna professor de futuras
gerações.
O que as pesquisas mostram
já há muito tempo é que não é o conhecimento em si, mas a postura
profissional e pessoal que fazem um grande professor. O conhecimento,
afinal, está em livros, e espalhado pelo mundo, para quem tiver
interesse de ir atrás deles. Mas um bom mestre, alguém que lhe ensine
não só o que aprender, mas como aprender e o que fazer com isso, esses
são realmente raros. Pouco importa se são professores com grandes
títulos acadêmicos, "coaches" profissionais, mentores dentro de
empresas, verdadeiros professores são aqueles que ensinam pelo exemplo,
por inspirar, por fazer com que seus alunos queiram se tornar iguais,
quem sabe até superá-los. Veja, caro leitor, que não estou falando de
sonhos, professores no modo como os defino aqui são encontrados em
vários lugares e biografias.
Para
ficar na área de Administração, é bom lembrar que um dos homens mais
ricos do mundo, Warren Buffett, se matriculou no MBA da Columbia
Business School porque Benjamin Graham dava aula ali (se você viu o
filme "À procura da Felicidade", com o Will Smith, o livro que ele
estuda no filme foi escrito por Graham). Foi usando os ensinamentos de
Graham que Buffett se tornou um dos maiores investidores do mundo. Se
não fosse por essa relação aluno-professor, Buffett não seria conhecido
como o grande expoente da chamada "análise fundamentalista" em finanças,
e Graham não seria considerado o formador dessa disciplina. Isso sem
contar no professor que sugeriu aos fundadores do Google que era hora de
largar a faculdade e focar na própria empresa, já que a faculdade
continuaria ali caso a aventura desse errado e inúmeros outros casos
parecidos.
Que fazer então, se você
continua em dúvida entre fazer ou não um curso superior? Se seu objetivo
é pragmático, um diploma de uma boa instituição pode abrir algumas
portas para você (mas dificilmente vai garantir sua permanência por lá).
Se você quer aprender um assunto por amor aquilo, motivo não falta para
você começar já, pouco importando títulos e outras coisas. Aliás,
garanto que se você realmente se importar, aprenderá mais e mais rápido
do que na maioria das instituições.
Agora,
se você realmente quer uma experiência que valha a pena, escolha um bom
professor. Ele pode estar em uma faculdade, ele pode ser seu chefe,
colega, um conhecido com o qual você conversa de vez em quando e te
inspira a ser melhor, ou até um personagem histórico sobre o qual você
costuma ler e admira (pessoalmente, penso no Winston Churchill quando
tenho um problema. Não só ele resistiu aos nazistas isolado em uma ilha,
como conseguiu tal proeza estando bêbado em boa parte do tempo).
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