quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Maquiagem contábil afeta credibilidade

No último ano do governo Lula, números sobre emprego, investimentos e contas públicas foram “torturados” para ficar dentro da meta

Torture os números e eles confessarão qualquer coisa, costuma dizer o escritor e jornalista norte-americano Gregg Easterbrook. Em seu último ano, o governo Lula aplicou a frase ao pé da letra. Números sobre emprego, investimento e contas públicas foram puxados e esticados para ficar dentro da meta anunciada. Segundo economistas, a maquiagem contábil afeta a credibilidade do país diante dos investidores e deturpa as comparações estatísticas dos indicadores oficiais.
A medida mais preocupante foi a contabilização, como receita do governo, dos recursos que ainda virão da exploração do pré-sal – artifício que coloca um fardo sobre as próximas gerações de brasileiros. A engenharia financeira envolveu a capitalização da Petrobras, o Tesouro e o BNDES. Em setembro passado, o governo emitiu R$ 42,92 bilhões em títulos públicos para ampliar sua participação na companhia, que passaria por uma oferta pública de ações. Por causa da cessão onerosa (“venda”) de 5 bilhões de barris de petróleo, o governo recebeu de volta da Petrobras R$ 74,8 bil hões. A “sobra”, de R$ 31,9 bilhões, foi então contabilizada no superávit primário – o índice que demonstra quanto o governo economizou para o pagamento da dívida pública.
“Foi uma tentativa frustrada do governo de mostrar para os meios econômicos que estava sendo austero nas suas contas, mantendo seu compromisso de manter o superávit. A principal consequência é que pode levar aqueles que tomam as estatísticas do governo ao pé da letra a tomar decisões equivocadas”, afirma o professor da FAE e presidente do Ipardes, Gilmar Lourenço, que também é autor de Conjuntura Econômica e Modelo de Compreensão para Executivos, livro que aborda a importância dos indicadores econômicos na tomada de decisões.
Outro truque do governo, menos polêmico, foi descontar os gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento no superávit primário. Cerca de R$ 11 bilhões usados no programa não foram incluídos como gasto. A manobra visou o cumprimento da meta de 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e só foi possível graças a uma brecha prevista na legislação, na qual os gastos com projetos incluídos no PAC podem ser classificados como investimentos. Mas 2010 foi a primeira vez em que isso ocorreu. Nos outros anos, o governo sempre contabilizou o dinheiro do PAC como despesa. “Tecnicamente, a manobra não está equivocada. Mas como desde o início o governo anterior sempre contabilizou os gastos do PAC como despesa, deveria ter mantido essa coerência”, diz Lourenço.
Marcelo Curado, professor de Economia da UFPR, também lembra que as mudanças de metodologia acabam atrapalhando as comparações temporais. Os dois economistas concordam, porém, que o mercado está atento e consegue descontar as manipulações no momento de fechar os números sobre governo. “A questão é que os índices governamentais perdem credibilidade, mas o mercado sabe das estratégias e leva isso em consideração em suas decisões”, diz Curado.
Emprego
Até no mercado de trabalho, uma das áreas que mostrou maior avanço durante a gestão Lula, os números foram manipulados. Promessa importante em ano eleitoral, o governo afirmava desde o início do ano passado que o país fecharia 2010 com 2,5 milhões de novas vagas com carteira assinada. O número só foi atingido graças ao uso dos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). A Rais contabiliza os empregos declarados pelas empresas fora do prazo e costuma ser divulgado apenas no mês de maio de cada ano – portanto não incluído no número do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), usado como indicador dos empregos no país. No ano passado, porém, o Rais foi incluído no Caged. Sem a manobra, o número de vagas teria ficado em 2,13 milhões em 2010.
Regras


O governo anterior alterou as regras de alguns indicadores para conseguir atingir as metas. Veja alguns exemplos:

Petrobras

A promessa
Aumentar o capital da Petrobras com o dinheiro de investidores.

A conta
A cessão onerosa (“venda”) de 5 bilhões de barris de petróleo à Petrobras rendeu ao governo R$ 78,4 bilhões. A ideia do governo era que esse dinheiro retornasse à estatal, via BNDES, para turbinar os investimentos da empresa, mas parte dele – R$ 31,9 bilhões – foi usada para atingir a meta fiscal de setembro. Na prática, o governo antecipou o dinheiro que virá da exploração do pré-sal e o contabilizou como receita hoje. Sem a manobra, o resultado fiscal do governo no mês teria sido de R$ 6 bilhões negativos, e não positivo em pouco mais de R$ 26 bilhões, como foi anunciado.

Superávit primário

A promessa
Fechar 2010 com superávit primário de 3,1% do PIB, ou R$ 113,4 bilhões.

A conta
O governo abateu das contas públicas R$ 11,7 bilhões de gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. O valor é equivalente a 0,32% do PIB.

Emprego

A promessa
Fechar 2010 com 2,5 milhões de novas vagas de trabalho com carteira assinada.

A conta
O governo antecipou as informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), sempre divulgada em maio, contabilizando as contratações do serviço público e as vagas declaradas pelas empresas fora do prazo. Sem a manobra, o resultado do emprego no país no ano passado seria de 2,13 milhões de vagas com carteira assinada.



Fonte: http://www.gazetamaringa.com.br/online/BRENO BALDRATI

PIB do Paraná deve superar média do país

A economia paranaense cresceu acima da média nacional, segundo projeção do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes). O Produto Interno Bruto (PIB) do estado avançou 8,3%, enquanto a estimativa para o Brasil é de 7,6%. O forte crescimento reverte o fraco desempenho registrado em 2009, quando os efeitos da crise econômica fizeram o estado ter o pior número da série histórica. Naquele ano, a economia tombou 1,2%, bem mais do que a retração nacional, de 0,6%.

“Em 2010, além da safra agrícola recorde, houve uma recuperação do ritmo de produção da indústria”, lembra Julio Suzuki, coordenador de pesquisa do Ipardes. Embalada pelo aumento do crédito disponível, e puxada por setores como veículos, máquinas, equipamentos e alimentos, a produção industrial do estado cresceu 14% em 2010, segundo o IBGE.
As exportações também recuperaram grande parte das perdas de 2009, quando recuaram 26,39%. As vendas externas cresceram 26,31% em 2010 e somaram US$ 14,2 bilhões, puxadas principalmente pela recuperação dos preços das commodities agrícolas. Ainda assim, as vendas externas estão US$ 1 bilhão abaixo dos volumes de 2008.
Commodities
Os cálculos do Ipardes ainda são preliminares e dependem da confirmação do PIB nacional. Se confirmados, a soma das riquezas do estado chegará perto de R$ 205 bilhões em 2010. Para o professor de Economia José Guilherme Silva Vieira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o Paraná “surfou na onda” do crescimento nacional, mas há características próprias que fizeram o seu resultado ser superior. A primeira delas é a forte relação da economia regional com o agronegócio, que se beneficiou com a demanda da China e da Índia e com a recuperação dos preços internacionais.
“Além disso, no mercado interno, Curitiba e região têm, historicamente, uma proporção maior de pessoas na classe média do que outras capitais. E nem é preciso lembrar que foi o crescimento de consumo da classe média e a entrada de novas pessoas nessa faixa de renda um dos fatores que contribuiu para o avanço da economia no ano passado”, afirma Veira. A construção civil, o mercado imobiliário aquecido e o recorde de geração de empregos contribuíram para o resultado.
De acordo com Vieira, o estado tem a chance de crescer acima da média brasileira também em 2011. Os preços agrícolas e a possibilidade de mais uma safra recorde devem garantir mais um ano positivo para o estado.
No entanto, apesar do avanço do PIB, algumas ameaças ao desenvolvimento do estado permanecem, na avaliação dos economistas. O rápido crescimento das importações, favorecidas pelo câmbio, tende a tirar mercado da indústria nacional de manufaturados, que também viu minguar sua participação no mercado externo por causa do dólar fraco. Gargalos na área de infraestrutura e mão de obra qualificada também são preocupantes.
Outro fator, segundo Julio Suzuki, do Ipardes, é a perda relativa de participação do Paraná no PIB nacional nos últimos anos, fruto não apenas do crescimento dos estados do Nordeste, como também da falta de uma política de desenvolvimento paranaense, que contemplasse a atração de novos investimentos. “Em 2003 o estado representava 6,4% da soma das riquezas nacionais. Em 2009, essa proporção estava em 5,9%”.
Fonte: http://www.gazetamaringa.com.br/online/

Paraná - Um mar de café


HISTÓRIA - A produção cafeeira no Paraná teve destaque de 1920 até 1975 e no auge, em 1962, chegou a colher 20 milhões de sacas, o que equivaleu a 1/3 da produção mundial da bebida

Antes de serem cafeicultores, os homens que escolheram o Paraná para produzir café tiveram que seguir a técnica dos bandeirantes: desbravar o território praticamente intacto, povoado apenas por uma rica e densa mata nativa, para depois fazer o buraco e plantar. A peroba rosa, que existia em abundância, foi derrubada para construir as primeiras casas das fazendas paranaenses. No princípio, as famílias, constituídas por cerca de 50 pessoas, plantaram milho, feijão e arroz para a própria subsistência. O café demoraria quatro anos para brotar.

Foi entre 1850 e 1870 que as primeiras levas de imigrantes – principalmente paulistas e mineiros – vieram para o Paraná em busca de terra nova e de boa qualidade para o plantio. O Império já havia feito um levantamento e constatado que a “terra roxa” rendia bons frutos. “A cultura do café era nômade, o que quer dizer que a população ia aos lugares onde existia terra produtiva, independentemente da localização”.
O Paraná atraiu ainda mais mineiros e paulistas a partir de 1906, em decorrência do recém-aprovado Convênio de Taubaté: o governo teve de comprar o café excedente produzido nos dois estados para evitar que o preço caísse e começou a desencorajar a produção em larga escala. “Como no Paraná havia uma grande produção, sem restrição, ele era um cenário promissor”, diz o engenheiro agrônomo Armínio Kaiser, também fotógrafo e ex-integrante do extinto Instituto Brasileiro do Café (IBC).
Mas foi apenas na década de 1930 que houve uma definição maior das terras que passariam a ser fazendas cafeeiras. Em 1926, o governo do Paraná vendeu uma boa parte de seus hectares no Norte para uma companhia inglesa. Ela exploraria a região com a cultura do algodão e em troca daria infraestrutura ao estado.
“A Inglaterra teve uma relação importante de conhecimento com o algodão, principalmente pelas explorações feitas na África. Percebeu, porém, que aqui não daria certo porque o algodão estava intimamente ligado ao escravo [plantava-se para fazer roupas para eles]. Por isso, em plena República, esta não seria uma atividade lucrativa e socialmente interessante”.
A solução encontrada pela companhia foi lotear as terras, o que impulsionou a vinda de mais imigrantes interessados na produção do café. Só que agora eles não eram desbravadores, mas compradores. Foi a venda desses pequenos lotes que determinou a principal característica das fazendas paranaenses: diferentemente de São Paulo, elas eram menores e em maior quantidade. “O Paraná teve 70 mil propriedades de fazenda no auge da produção, de 1920 a 1975, grande parte com até 10 alqueires”, afirma o engenheiro agrônomo Irineu Pozzobon, autor do livro A Epopeia do Café no Paraná.
Migração
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) foi o último acontecimento que definiu quem seriam os fazendeiros no Paraná: italianos, alemães e japoneses, muitos sem conhecimento sobre o café, se estabeleceram no estado após deixarem seus países. Foi nas fazendas desses imigrantes que a arquitetura de madeira teve mais destaque, principalmente a casa sede. “Eles moravam na fazenda, diferentemente de outros proprietários, e investiram na residência. Uma família alemã chegou a criar um hospital na propriedade para atender os colonos. A mulher do fazendeiro era médica”. Em 1962, o Paraná produzia 20 milhões de sacas de café e chegou a ser responsável por 50% da produção mundial. Teve 1 bilhão de pés: uma pessoa cuidava de cerca de quatro pés de café por colheita. Trata-se, pois, do tipo de agricultura que antigamente demandava mais mão de obra. Não por acaso, o estado teve 2 milhões de pessoas envolvidas no processo (1/3 da população total na época). Foi esse povo que migrou para as cidades, muitos como boias-frias, após a grande geada de 1975, que arrasou todas as plantações.
Fonte: http://www.gazetamaringa.com.br/online/

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Capital intelectual: a nova vantagem competitiva



Desde os primórdios, o Capital Intelectual manifesta-se em todas as ações da vida, nas decisões e até mesmo na sobrevivência da espécie humana, e é a partir de bem pouco tempo que as organizações e seus administradores vêm percebendo a sua influência e suas implicações nos resultados empresariais. Os ativos intangíveis, como as qualificações dos funcionários, a tecnologia da informação e os incentivos à inovação, por exemplo, podem desempenhar papel preponderante na criação de valor para a empresa. Os sistemas tradicionais de mensuração, não foram concebidos para lidar com a complexidade desses ativos, cujo valor é potencial, indireto e dependente do contexto. Os ativos baseados no conhecimento devem ser avaliados com extrema cautela, porque seu impacto sobre o destino de qualquer negócio é tremendo. Para Sveiby (2000), muito mais do que contribuir para a valorização total da empresa, o conhecimento é à base de sua estrutura interna e externa. Para poder competir e enfrentar os desafios de um mercado cada vez mais exigente, as empresas têm que investir em recursos humanos. Drucker (1996) diz que os meios de produção, a base tradicional do capitalismo, estavam, agora, nas cabeças e mãos dos trabalhadores.

Os fatores clássicos de produção nos dias de hoje, conforme Edvinsson & Malone (1998), não são mais os principais responsáveis pela criação do valor de mercado. O capital em forma de imobilizado e o trabalho na velha concepção de mão-de-obra cedeu o lugar a fatores que, na falta de melhor expressão, designamos por intangíveis. Os ativos intelectuais tornaram-se os elementos mais importante no mundo dos negócios.

Bateson apud Raupp (2001) dizia que existem cinco tipos de criaturas no mundo. Primeiro, as que somente são. Segundo, as que são e vivem. Terceiro, as que são, vivem e se movem. Quarto, as que são, vivem, se movem e pensam. E, finalmente, aquelas que mais nos interessam: as que são, vivem, movem-se, pensam e pensam como pensam. Portanto, neste novo milênio, vão valer, acima de tudo, a agregação de valor e a geração de riqueza contidas nos cérebros das pessoas.

Como um bem humano, o Capital Intelectual nas empresas, apresenta-nos um paradoxo. Se o pessoal constitui uma vantagem competitiva principal, como o é, tem-se que investir nele desenvolvê-lo e ceder-lhe espaço para seus talentos. Quanto mais fizermos isso, contudo, mais enriqueceremos seus passaportes e aumentaremos sua mobilidade potencial.

Valorizar o capital humano é fundamental para a competitividade empresarial. Pois os recursos humanos são os principais responsáveis pelo desempenho das empresas e constituem vantagens competitivas num mercado cada vez mais exigente.

Com a globalização, o avanço tecnológico, as empresas estão investindo em capital humano, com o objetivo de ter retorno mais rápido.

Neste contexto, este trabalho abordará: o conhecimento, o conhecimento como gerador de riqueza das organizações, gestão do conhecimento – a chave da vantagem competitiva, capital intelectual: principal fonte de intangíveis nas empresas e um diferencial competitivo em relação aos concorrentes, capital humano – a mina na empresa, capital estrutural, capital do cliente, avaliação do capital intelectual e gestão do capital intelectual.

O conhecimento conforme Padoveze (2000) é gerado e operacionalizado pelo ser humano, acumulado e administrado pela sociedade para satisfação de suas necessidades. As empresas e demais instituições, que são sociedade de pessoas com objetivos bem definidos, fazem o papel de reunir e operacionalizar especialidades de conhecimento e com isso conseguem maior eficiência e eficácia na gestão do conhecimento, para atender seus objetivos e cumprir suas missões.

O conhecimento sempre desempenhou importante papel nas grandes transformações sociais. Na primeira fase da Revolução Industrial, Paiva (1999) coloca que foram aplicadas as ferramentas, processos e produtos; na segunda fase – revolução da Produtividade -, passou a ser aplicado ao trabalho. Atualmente, o conhecimento está sendo aplicado ao próprio conhecimento; é a Revolução Gerencial, segundo Drucker (1996). Portanto, com a Era da Informação, passou a ser o elemento essencial para o sucesso da organização.

Atualmente, as empresas têm feito grande uso da tecnologia da informação como instrumento gerencial. Estas informações são utilizadas para repor estoques, abastecer depósitos e outros ativos físicos, economizando tempo e como dinheiro. Administrar o conhecimento como faturas, mensagens, patentes, processos, habilidade dos funcionários, conhecimento dos clientes, fazendo uso intensivo de máquinas, computadores, para tal, determina o sucesso ou fracasso da empresa nos tempos de hoje.

Toffler (1980) diz que, no momento atual, que é identificado pela Terceira Onda, é a Era do Conhecimento, onde se permite uma grande descentralização de tarefas. Esta fase é caracterizada pelo poder do cérebro, na qual a informação assume o papel de principal recurso econômico.

Hoje, com a sociedade do conhecimento, nos três fatores tradicionais de produção (recursos naturais, mão-de-obra e capital), acrescenta-se o conhecimento e a inteligência das pessoas, agregando valor aos produtos e serviços. Como argumenta Drucker (1996), o conhecimento passou a ser o recurso, ao invés de um recurso.

Todavia, segundo Paiva (1999) o conhecimento passou a representar um importante diferencial competitivo, para as empresas que sabem adquiri-lo, mantê-lo e utilizá-lo de forma eficiente e eficaz. Esse conhecimento passou a gerar o Capital Intelectual que, às vezes, é bem mais importante que o Capital Econômico.

O conhecimento é a base principal de valorização nas organizações de hoje. Então o que poderá dar de errado em uma estratégia orientada para o conhecimento? Muito pouco. Um dos principais problemas para aqueles que desejam adota-la é o famoso fantasma da era industrial, que ainda assombra o mundo empresarial. A era industrial ainda vê as pessoas como custos e não como receitas. Mas como utilizamos, desenvolvemos, e estruturaremos continuamente o conhecimento dentro das organizações?

O conhecimento, material intelectual bruto, transforma-se em capital intelectual, a partir do momento que passa a agregar valor aos produtos/serviços. E esse capital é, em alguns casos, mais valioso do que o próprio capital econômico.

O novo milênio estará desafiando todas as organizações a mostrarem suas competências. As tarefas diárias exigem um alto grau de conhecimento e inteligência, no qual nos impedem de ter relacionamentos estreitos, os sistemas tem que ser cada vez mais abertos, igualitários e honestos. Os empregados têm que pensar conjuntamente para, em conjunto, explorar as oportunidades, os serviços e resolver os problemas. Porque a organização diz respeito à forma como estruturarmos os nossos relacionamentos, adequando a nova realidade, devido mudanças das nossas idéias sobre métodos e os padrões de organização.

O estágio atual para o futuro só é possível preparando as pessoas, educando-as, treinando-as, desenvolvendo-as, enfim, investimento em quem, de fato vai fazer essa transformação.

A gestão do conhecimento surgiu na década de 1990, como uma proposta de agregar valor à informação e facilitar o fluxo interativo em toda a corporação. Ela desenvolve sistemas e processos que visam adquirir e partilhar ativos intelectuais. Reporta inevitavelmente ao uso pleno do conhecimento, direcionando-o como diferencial estratégico competitivo de sucesso. Aumenta a geração de informações que sejam úteis e significativas e promovam atividades, enquanto procura aumentar o aprendizado individual e grupal. Além disso, ela pode maximizar o valor da base de conhecimento da organização em funções diversas e localizações diferente.

Essa ferramenta como diz Rigby (2000) mostra que as empresas de sucesso não são um conjunto de produtos, mas sim de bases de conhecimento distintas. Esse capital intelectual é a chave da vantagem competitiva da companhia com seus clientes-alvo. A gestão do conhecimento procura acumular o capital intelectual que criará competências essenciais exclusivas e produzirá resultados melhores.

Com o enfoque da gestão do conhecimento começa-se a rever a empresa, suas estratégias, sua estrutura e sua cultura. Isso se dá num ambiente competitivo, onde a rápida globalização da economia e as melhorias nos transportes e comunicações dão aos consumidores uma gama de opções sem precedentes. Pressões sobre os preços não deixam margem para ineficiência. O ciclo de desenvolvimento de novos produtos é cada vez mais curto. As empresas precisam de qualidade, valor agregado, serviço, inovação, flexibilidade, agilidade e velocidade de forma cada vez mais crítica. As empresas tendem a se diferenciar pelo que elas sabem e pela forma como conseguem usar esse conhecimento.

O termo capital intelectual teve sua origem na propriedade intelectual; os componentes de conhecimentos de uma empresa, reunidos e legalmente protegidos. É um conjunto de benefícios intangíveis que agregam valor às empresas.

Segundo Brooking, apud Antunes & Martins (2002), o capital intelectual pode ser dividido em quatro categorias:

Ativos de Mercado: potencial que a empresa possui em decorrência dos intangíveis que estão relacionados ao mercado, tais como: marca, clientes, lealdade dos clientes, negócios recorrentes, negócios em andamento (backlog), canais de distribuição, franquias etc.

Ativos Humanos: compreendem os benefícios que o indivíduo pode proporcionar para as organizações por meio da sua expertise, criatividade, conhecimento, habilidade para resolver problemas, tudo visto de forma coletiva e dinâmica.

Ativos de Propriedade Intelectual: incluem os ativos que necessitam de proteção legal para proporcionar às organizações benefícios tais como: know-how, segredos industriais, copyright, patentes, designs etc.

Ativos de Infra-Estrutura: compreendem as tecnologias, as metodologias e os processos empregados, como cultura, sistema de informação, métodos gerenciais, aceitação de risco, banco de dados de clientes etc. 

Os fatores que geram o capital Intelectual de acordo com Brooking apud Antunes & Martins (2002), são:

- conhecimento, pelo funcionário, de sua importância para os objetivos da empresa; 
- funcionário tratado como ativo raro; 
- alocar a pessoa certa na função certa considerando suas habilidades; 
- oportunizar o desenvolvimento profissional e pessoal; 
- identificação do know-how gerado pela P & D; 
- avaliar o retorno sobre o investimento em P & D; 
- definir uma estratégia proativa para tratar a propriedade intelectual; 
- mensurar o valor de marcas; 
- avaliar investimentos em canais de distribuição; 
- avaliar a sinergia resultante de treinamento e os objetivos corporativos; 
- prover infra-estrutura e adequado ambiente de trabalho; 
- valorizar a opinião dos funcionários; 
- oportunizar a participação dos funcionários na definição dos objetivos da empresa; 
- estimular os funcionários para a inovação.

Fica, assim, clara a importância do Capital Intelectual para o desenvolvimento das empresas, além de representar diferencial competitivo em relação aos concorrentes. A era atual, como diz Sá (2002) exige a capitalização de intelectos (no sentido de investimentos maiores em qualidade da inteligência agente sobre os capitais) na busca da eficácia comum dos mais importantes valores das células sociais e de aumento do valor efetivo da própria riqueza.

O capital intelectual pode ser dividido em três grandes capitais. O capital humano, o capital estrutural e o capital do cliente. Todos são intangíveis, mas descrevem coisas tangíveis para os executivos. É o intercâmbio entre eles que cria o Capital Intelectual.


As pessoas geram capital para a empresa através de sua competência, sua atitude e sua capacidade para inovar. As competências incluem as habilidade e a educação e a atitude se refere às condutas. Porém é finalmente a capacidade de inovar, a que pode gerar mais valor para uma companhia. Tudo isto constitui o que chamamos de capital humano.

Constitui o capital humano o conhecimento acumulado, a habilidade e experiências dos funcionários para realizar as tarefas do dia-a-dia, os valores, a cultura, a filosofia da empresa, e diversos ativos intangíveis, ou seja, as pessoas que são os ativos humanos da empresa. A principal estratégia da empresa será de atrair, reter, desenvolver e aproveitar o máximo o talento humano, que será cada vez mais, a principal vantagem competitiva.

Para entender melhor o capital humano é preciso entender as habilidades que determinam qualquer tarefa, processo ou negócio, relacionadas abaixo:

Habilidade do tipo commodity: são as habilidades adquiridas, costumam não serem específicas de uma empresa e podem ter o mesmo valor para qualquer organização. É por exemplo, a habilidade de atender ao telefone.

Habilidades alavancadas: o conhecimento pode ser mais valioso para uma determinada empresa do que para outra. São específicas a um setor e não a uma empresa. Os programadores, por exemplo, da Andersen Consulting podem alavancar essa habilidade enquanto os do Bank of America só agregam valores aos seus funcionários.

Habilidades proprietárias: são os talentos específicos à empresa, em torno dos quais uma organização constrói seu negócio. Pode ser codificada em forma de patentes, direitos autorais, expertise. O Ritz-Carlton é o especialista em administração hoteleira.

A gestão do capital humano passa pelo levantamento do potencial humano, pela identificação das potencialidades estratégicas a desenvolver e pela capacitação necessária.

O capital humano, portanto, configurando-se como um grande referencial de sucesso no meio empresarial, é o que vai determinar o futuro da companhia. Sem um gerenciamento adequado deste requisito, nenhuma empresa terá sucesso com suas metas e objetivos e, conseqüentemente, não alcançará os resultados esperados. Muito menos poderá pretender manter-se competitiva no mercado.

Capital Estrutural compreende os ativos intangíveis relacionados com a estrutura e os processos de funcionamento interno e externo da organização que apóiam o capital humano, ou, tudo o que permanece na empresa quando os empregados vão para casa.
Edvinsson (1997) propõe a seguinte divisão para o capital estrutural:

Capital organizacional abrange o investimento da empresa em sistemas, instrumentos e filosofia operacional que agilizam o fluxo de conhecimento pela organização, bem como em direção às áreas externas, como aquelas voltadas para os canais de suprimento e distribuição.

Capital de inovação refere-se à capacidade de renovação e aos resultados da inovação sob a forma de direitos comerciais amparados por lei, propriedade intelectual e outros ativos e talentos intangíveis utilizados para criar e colocar rapidamente no mercado de novos produtos e serviços.

Capital de processos é constituído por aqueles processos, técnicas (como o ISO 9000) e programas direcionados aos empregados, que aumentam a ampliam a eficiência da produção ou a prestação de serviços. É o tipo de conhecimento prático empregado na criação contínua de valor. 

Para gerenciar o capital estrutural, é preciso uma rápida distribuição do conhecimento, o aumento do conhecimento coletivo menor tempos de espera e profissionais mais produtivos. A função da gerência da empresa é utilizar corretamente o capital estrutural, para que o mesmo aumente o valor para os acionistas.

Capital do Cliente é definido como o valor de sua franquia, seus relacionamentos contínuos com pessoas e organizações para as quais vende.

Para Sveby (1998), a escolha da empresa do conhecimento no que diz respeito a clientes, portanto, tem um significado estratégico vital porque o tipo de cliente com os quais uma empresa do conhecimento trabalha determinada tanto a qualidade quanto a quantidade de suas receitas intangíveis do conhecimento. Existem três tipos de clientes, segundo o mesmo autor:
- os que melhoram a imagem, no qual suas referências e seus depoimentos são muitos valiosos; 
- os clientes que melhoram a organização, esses exigem soluções de ponta, melhorando a estrutura interna da empresa; e 
- os clientes que aumentam a competência, que contribuem com projetos que desafiam a competência dos funcionários, fazendo que os funcionários aprendam com eles.

Existe uma metodologia desenvolvida por Sveiby (1998) para avaliação dos ativos intangíveis, que tem como objetivo criar um sistema de gerenciamento de informações para os gestores da empresa, que precisam conhecê-la, acompanhar a sua evolução e adotar medidas corretivas, quando necessárias.

As avaliações dos ativos intangíveis são feitas para atender as necessidades de atendimento dos clientes, credores e acionistas ou para uso dos gestores da empresa.

Para avaliar os ativos intangíveis, o processo é o seguinte: determinação da finalidade: uso externo e/ou interno; a classificação dos funcionários dentro de uma das três categorias de ativos intangíveis, que são: competência, estrutura interna e estrutura externa; a formulação de uma estratégia para gestão do conhecimento; informações que deverão enfatizar o fluxo, a mudança e os dados de controle; comparação dos indicadores em relação aos anos anteriores; apresentação dos indicadores num quadro denominado de Monitor de Ativos intangíveis.

As informações geradas pela Avaliação do Capital Intelectual são úteis para os gestores, já que lhes possibilitam: sistematização das informações; identificação e mensuração de indicadores financeiros e não financeiros; detalhamento da competência dos profissionais, geradores de receitas da organização; proporciona subsídios para tomada de decisões sobre pessoal, investimentos e clientes.

Segundo estudo do Financial and Management Acconting Committee (Técnica Contable) apud Baum & GonçalveS (2001) os conceitos básicos relativos à medida e gestão do capital intelectual estão relacionados a três aspectos:
Contexto econômico – o crescimento é maior nas indústrias e nações voltadas à criação, transformação e capitalização dos conhecimentos do que aquelas ligadas à exploração e utilização dos recursos naturais em seus processos. O conhecimento é um diferencial de competitividade.

Contexto Contábil – a contabilidade tradicional não está habilitada a medir aspectos da empresa quanto à capacidade de dirigentes e pessoal, o valor das informações, da capacidade tecnológica, potencial de mercado e investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Contexto Empresarial – a visão na gestão da empresa, a partir da atual era do conhecimento em relação à era industrial passa a ter o seguinte enfoque:

Para Stewart (1998) os ativos intelectuais de uma corporação, são geralmente três ou quatro vezes mais valiosos que os tangíveis que constam nos livros e diz que os passos para administrá-lo são:
- definir a importância do investimento intelectual para o desenvolvimento de novos produtos; 
- avaliar a estratégia dos componentes e o ativo do conhecimento; 
- classificar o seu portfolio: o que você tem, o que você usa, onde eles estão alocados; 
- analisar e avaliar o valor do portfolio: quanto eles custam, o que pode ser feito para maximizar o valor deles, se deve mantê-los, vendê-los ou abandoná-los; 
- investir baseado no que se apreendeu nos passos anteriores, identificar espaços que devem ser preenchidos para explorar conhecimento, defender-se da concorrência, direcionar a ação da empresa ou avançar na tecnologia; e 
- reunir o seu novo portfolio de conhecimento e repetir a operação ad infinitum.

Encontra-se em desvantagem em relação às demais, as empresas que ainda não se deram conta do seu Capital Intelectual, pois não encontraram a importância do mesmo dentro do seu patrimônio. O primeiro passo para o gerenciamento deste capital é identificá-lo, para depois mensurá-lo.

Percebe-se então que o gerenciamento do capital intelectual é mais do que apenas o gerenciamento de conhecimentos. Gerenciamento do capital intelectual para Edvinsson (1997) é a alavancagem do capital humano e do capital estrutural em conjunto. Trata-se de um efeito multiplicador entre capital humano e capital estrutural. Isso posto, capital intelectual é uma função de gênero e de metas.

Padoveze (2000) apresenta as medidas como sugestão para o gerenciamento do capital intelectual.

– Indicadores para o capital humano – reputação dos empregados da companhia junto a empresa de colocação de empregados; anos de experiência na profissão; taxa de empregados com menos do que dois anos de experiência; satisfação dos empregados; proporção dos empregados, dando novas idéias e sugestões e proporção implementada; valor adicionado por empregado; valor adicionado por unidade monetária de salário.
– Indicadores para o capital estrutural – número de patentes; percentual de despesas de P&D (pesquisa e desenvolvimento) sobre as vendas líquidas; custo de manutenção de patentes; custo de projeto do ciclo de vida por vendas; número de computadores individuais, ligados ao banco de dados; número de vezes que o banco de dados é consultado; atualização do banco de dados; contribuição ao banco de dados; volume de uso do sistema de informação (SI); custo do SI por vendas; lucro por custo do SI; satisfação com o serviço do SI; taxa de implementação de novas idéias pelo total de novas idéias geradas; número de introdução de novos produtos; introdução de novos produtos por empregado; número de equipes de projeto multifuncionais; proporção do lucro dos novos produtos introduzidos; tendência do ciclo de vida dos produtos nos últimos cinco anos; tempo médio para planejamento e desenvolvimento de produto; valor das novas idéias (economias e ganhos em dinheiro).
– Indicadores para a clientela e relacionamentos – participação no mercado; crescimento no volume de negócios; proporção das vendas por repetitividade dos clientes; lealdade à marca; satisfação dos clientes; reclamação dos clientes; rentabilidade dos produtos como uma proporção das vendas; número de alianças cliente/fornecedores e seu valor; proporção dos negócios dos clientes (ou fornecedores) que os produtos e serviços da empresa representam (em valor).

Desta forma, segundo Tinoco (1996), o valor gerado em decorrência do trabalho humano, constitui-se em um ativo que precisa ser devidamente contabilizado, mensurado, analisado e divulgado.

Com as mudanças econômicas, tecnológicas, políticas e sociais, houve uma profunda alteração da estrutura e valores da sociedade. Nessa nova era, o conhecimento passou a ter uma importância fundamental em todas as atividades econômicas, como seu principal ingrediente.


O problema todo consiste em mensurar esse capital intelectual. A grande questão é saber como identificar e disseminar o conhecimento gerado dentro da empresa, promovendo a transformação de material intelectual bruto gerado pelos ingredientes da organização em Capital Intelectual, e que garanta uma trajetória de crescimento e desenvolvimento.

Sabe-se que existe a consciência da necessidade de continuar com estudos e definições, a fim de tornar o Capital Intelectual uma ferramenta gerencial cada vez mais eficiente, ou mesmo uma demonstração como parte integrante das Demonstrações Contábeis, pois o modelo tradicional de Contabilidade, que descreveu com tanto brilho as operações das empresas durante meio milênio, não tem conseguido acompanhar a revolução que está ocorrendo no mundo dos negócios.

Apesar das dificuldades encontradas na busca da mensuração desse grande ativo que é o capital intelectual, a ciência contábil está procurando dar a sua contribuição em mais uma tarefa árdua de avaliação de todos os elementos que interagem sobre o patrimônio.
Todavia, não podemos deixar de reconhecer premente de mudanças e alguns ajustes nos sistemas e práticas contábeis para que essa nova realidade seja devidamente reconhecida e refletida nos registros contábeis. Na verdade, as informações sobre o capital intelectual vêm a complementar e ampliar as informações contábeis atuais.

A nova tendência de gestão do conhecimento nas empresas possui características marcantes e poderosas, capazes de promover no ambiente interno das empresas, nos mercados nos quais elas participam, e na sociedade na qual interferem, cenários racionais de aproveitamento da força do trabalho, criando oportunidades efetivas de desenvolvimento individual e corporativo.

Em vista disso, é fundamental que a administração tenha alguns cuidados, para que os funcionários considerados como Capital Intelectual do departamento não mudem para outras áreas (ou empresas) e mesmo que permaneçam, não percam a motivação para o constante aperfeiçoamento.

Stewart (1998) diz que os ativos do conhecimento, assim como dinheiro ou equipamentos, existem e só vale a pena cultivá-los no contexto da estratégia. Não se pode definir e gerenciar os ativos intelectuais sem saber o que se está tentando fazer com eles. Toda organização possui valiosos materiais intelectuais sob a forma de ativos e recursos, perspectivas e capacidades táticas e explícitas, dados, informação, conhecimento e talvez sabedoria. Entretanto, não se pode gerenciar o capital intelectual – não é possível sequer encontrar suas formas mais soft – sem localizá-lo em pontos estrategicamente importantes e onde a gerência realmente seja importante.

Fonte: http://www.gestiopolis.com  /  Maria Elisabeth Pereira Kraemer